Username:

Password:

Forgot Password? / Help
O Kris

 

Dr. Jorge Caravana

“Uma faca é uma faca, uma adaga é uma adaga. Mas um Kris é tosan aji ou ferro precioso com uma alma e um espírito e carácter” Anis Rachwartono

O Kris é um tipo de adaga de duplo gume, exclusivo do Mundo Malaio, confundindo-se com a sua cultura e modo de vida. Encontra-se difundida por toda a Indonésia, Malásia, algumas áreas do Cambodja e sul da Tailândia e das Filipinas.

A sua origem, está rodeada de lendas e mitos, presumindo-se que a forma actual terá sido fruto de uma longa evolução, de acordo com os estudos efectuados em reproduções escultóricas e em baixos-relevos, existentes em templos do Sudoeste Asiático, sendo os mais conhecidos os de Borobudur e Candi Prambanan, edificados no período correspondente ao poderoso reino de Majapahit (1292 – inícios do século XVI), situado a Este da ilha de Java.

Na cultura malaia, o Kris é considerado mais do que uma mera arma de ataque porque sob as mais diversas formas, ele está impregnado de significados e de símbolos místicos que desde épocas muito recuadas lhe conferem poderes mágicos, transformando-o num objecto de veneração.

Transmite-se de pais para filhos como a maior relíquia, constituindo um dos dotes mais valiosos. inclusive, numa cerimónia de casamento, pode substituir o próprio noivo. Podem usar-se três Kris ao mesmo tempo, da seguinte maneira: o pessoal, à esquerda, o do falecido pai, à direita, e por último um terceiro, atrás, que pertencera a um ancestral ou então que tenha sido recebido através de dote, com o objectivo de proteger do mau olhado e de ataques traiçoeiros.

Por uma questão de educação, nunca se entra em casa de um amigo com um Kris à cintura, pelo menos o que é desembainhável e que corresponde ao da esquerda. À porta de casa há suportes específicos para os Kris, onde estes devem ser colocados sempre na posição vertical, respeitando toda a carga simbólica do seu todo. Caso seja colocado numa posição horizontal, crê-se que “ganha vida própria e pode trespassar, voando, sobre alguém que tenha maus pensamentos ou seja um inimigo do seu proprietário”.

Em tempos não muito recuados, era até permitido a um nobre, mesmo à saída da oficina do empu, “testar” o seu Kris, trespassando o primeiro plebeu com quem se cruzasse.

O Kris é criado de acordo com a personalidade e o estrato social do cliente do empu (alfageme). Por esta razão não há dois Kris iguais, à excepção dos que são fabricados para serem vendidos em lojas de artesanato.

A lâmina compõe-se de uma zona superior (ganja) e outra inferior (pesi) e pode apresentar vários tipos de formas: completamente direita (dapur), ou de serpente sagrada (dapur bener); ondulada ou de serpente em movimento (dapur Iu), ou ainda, mista.

O número de curvas (luk) está directamente relacionado com o perfil psicológico do seu encomendante, assim como o próprio aspecto do padrão (pamor), embora aqui, surjam duas grandes divisões: o pré-planeado (pamor rekam) e o não planeado (pamor tiban).

Na sequência das diferentes proporções de ferro, níquel e ácido, da forma e do número de vezes que o metal é dobrado e batido, resultam os diferentes padrões das lâminas. Estes vão recebendo os nomes mais criativos: grão de arroz, melancia, folha de palmeira, chuva de ouro, entre tantos outros. Todos os pormenores de recorte e veios da lâmina têm nomes e significados próprios. Devido a esta complexidade, o empu (alfageme) pode demorar meses na sua execução, esperando até pela melhor lua ou conjugação dos astros.

O punho (ukirian) é também executado com diversas formas, quase sempre relacionadas com a área geográfica de proveniência, usando-se diversos tipos de materiais, que vão desde o osso, ao marfim, à prata, ao fóssil de molar de mamute, entre outros. O anel de ligação do punho à lâmina (mendak), normalmente de metal (prata, ouro, latão), é quase sempre decorado com gemas.

A bainha, surge superiormente sob a forma de um barco (wrangka): junco chinês, nau portuguesa ou, na maioria das vezes, riniforme, construído em madeiras exóticas e muito raramente em prata ou em marfim. Neste último caso, a sua utilização está relacionada também com a zona onde é fabricado.

A zona inferior da bainha, é composta por uma parte em madeira (gandar), forrada por uma capa externa, decorada (pendok), e que pode ser de madeira, latão, cobre, prata, ouro, surgindo muitas vezes, com gemas encastoadas e com cor, definindo assim o estrato social do seu possuidor. No caso da cor vermelha, por exemplo, esta estava reservada a altos dignitários da corte.

A ponta da bainha, designa-se pelo termo (buntut).

You must be logged in to post comment.