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O Porquê desta Colecção

Desde sempre convivi com diversas formas e origens de arte, sendo a arte oriental a que mais me fascinou e permanecendo vivo esse sentimento.

O meu avô paterno (Santos Silva), exerceu a magistratura em Quepém, Murmugão e Pangim no Estado de Goa, entre 1926 e 1937, nutriu sempre grande interesse por todas as formas da cultura oriental, adquirindo várias peças que me habituei a admirar em casa dos meus pais.

A epopeia dos descobrimentos portugueses sempre me atraiu, nomeadamente a forma peculiar de relacionamento com os povos com que contactavam, que enquadrado ao pensamento da época foi único pelo intercâmbio de culturas que gerou.

Estas armas, que algumas vezes combateram contra outras ao lado dos Portugueses, patenteiam na sua decoração, muitas das artes por estes levadas para tão longínquas paragens.

Pensando que a história das civilizações se fez com uma arma na mão e de entre estas a arma branca foi a mais nobre, carecendo o seu uso de combate cara a cara, sendo muitas vezes apenas usadas como símbolo de poder, foi-se lentamente formando no meu espírito o gosto por este tipo de colecção.

Por outro lado talvez pelo facto de ser médico cirurgião, em que a lâmina usada habilmente é o meio de cura, faça ainda mais sentido esta escolha.

Em 1998 Rainer Deahnhardt fez uma exposição na Cordoaria Nacional em Lisboa, de parte da sua colecção, na sua maioria composta por armas antigas de todos os géneros e proveniências.

Nessa exposição havia uma loja de antiguidades do mesmo tipo das expostas, onde adquiri as primeiras armas da minha colecção.

Em conversa com Rainer Deahnhardt sobre os limites de uma colecção e interpretando o meu gosto pelas armas brancas orientais, aconselhou-me a seguir o tema: “Armas Brancas e Armaduras Orientais relacionadas com a Expansão Portuguesa pelo Oriente”, conselho que segui como se estivesse há muito predestinado.

Tenho sucessivamente, com o gradual conhecimento do mercado e estudo do tema, vindo a requintar o tipo de peças adquiridas, privilegiando as armas com hipótese de alguma personalização, da sua qualidade em geral, mas sobretudo das lâminas e materiais empregues na sua decoração.

 

 

 

Uma colecção, no meu entendimento, deve coexistir paralelamente com o estudo das peças que se adquirem, bem como do ambiente social e histórico em que estiveram inseridas. Para tal é necessário possuir uma vasta biblioteca e congregar o esforço de peritos na área. Devo salientar o Prof. Manoucher Moshtagh Korasani cuja colaboração na tradução dos textos indo-persas foi preciosa para uma melhor caracterização de muitas das minhas peças.

As peças adquiridas estão de um modo geral, em boas ou óptimas condições de conservação, no entanto quatro delas careceram de algum restauro, para o que contribuiu a habilidade do meu amigo José Faria e Silva.

Qualquer colecção exige muita dedicação e sempre um esforço financeiro maior ou menor consoante o tipo de objectos que se colecciona. Há sempre que fazer opções que muitas vezes relegam para segundo plano outro tipo de investimento. Agradeço á minha família e em especial á minha mulher Isabel, companheira de trinta e cinco anos, o apoio que sempre me deu e possibilitou assim reunir o conjunto de peças aqui exposto.

Todo o coleccionador é um pouco obsessivo e talvez egoísta, quiçá para combater estes adjectivos abraçei com entusiasmo a hipótese de partilhar com os demais, o objecto da minha dedicação nos últimos dez anos, incentivando outros para o coleccionismo, principalmente quando é possível associa-lo a um estudo de uma área do conhecimento.

Porquê no Museu de Évora? Em Évora tenho vivido os últimos vinte anos da minha vida, onde trabalho e tenho sido acarinhado. O Museu de Évora, que me habituei a frequentar e a admirar sofreu profunda remodelação, que o obrigou a estar encerrado por vários anos. Actualmente tem a dirigi-lo uma equipa dinâmica e competente personificada no seu Director, Sr. Prof. José Oliveira Caetano e é por isso da mais elementar justiça que aqui faça a minha primeira exposição.

Foi com grande sentimento de gratidão e mesmo de alguma surpresa que recebi este convite, para pela primeira vez expor a minha colecção em tão importante Museu. Por me ter habituado a vê-la crescer nos últimos dez anos, não a terei valorizado como o Sr. Prof. José Oliveira Caetano, que com a sua visão experiente abraçou com entusiasmo e grande coragem este ambicioso projecto.

O meu obrigado ao Museu de Évora, patrocinadores e a todos os que tornaram possível com o seu enorme esforço e profissionalismo concretizar esta exposição.